SARAU


Sarau dos Mesquiteiros movimenta escola na Zona Leste
De projeto pedagógico para realidade na periferia. Coletivo artístico coloca jovens para ler e escrever poesia





Rodrigo Ciríaco (camisa verde) e a trupe que integra os Mesquiteiros

Os Mesquiteiros tiveram casa cheia no último sábado (25), quando a Escola Jornalista Francisco de Mesquita, em Ermelino Matarazzo, recebeu aproximadamente 100 pessoas em seu pátio. Era lançamento da primeira antologia poética do professor Rodrigo Ciríaco e sua trupe:Pode pá que é nóis que tá”.




Comandados por Ciríaco, aproximadamente 12 crianças e adolescentes organizam mensalmente o sarau na escola. O projeto, que começou como método pedagógico, ganhou o interesse dos alunos e ficou maior. Ciríaco é professor de História e leciona no próprio colégio. Para ele, a literatura precisa vir acompanhada de outros elementos, para ser melhor compreendida, e essa era a proposta do sarau. Eu não gostei de literatura por causa da escola, fui aprender a gostar nos saraus, lá me formei. Você não pode dar um livro e falar ‘lê’, quando eles olham a interpretação de um texto, expressão corporal, entonação da voz, isso ganha mais corpo.
Foi com base nessa vivência de saraus que surgiu a ideia de montar um com os seus alunos. Leciono aqui desde 2006, eu ia muito à Cooperifa, ao Sarau do Binho, no Suburbano, quando era aqui no Itaim [Paulista], acabei montando o meu, na escola, lembra. Até 2008, o sarau era realizado na sala de aula, ali mesmo todos recitavam poesia. Até que o professor convidou seus alunos para montar um grupo de teatro na própria escola. No ano seguinte, nasceu a ideia do sarau.



Da escola para a comunidade


Por ser em uma escola, eu sinto que atrai mais as famílias, atrai muita criança, montamos mesas de pintura aqui, as famílias se sentem bem, a gente deixa uma banca de livro, decoramos muito, bem colorido”, diz ele. Diferente de outros, como o da Cooperifa, Os Mesquiteiros não acontece em um bar, nem numa praça. Para Ciríaco, atrai um público, que não é visto com frequência em outros saraus. Temos a questão do cigarro e das bebidas, a falta disso afasta um pouco, mas também atrai outro público.”






     Mães de Maio foram receber a homenagem dos escritores  e   emocionaram com discurso por justiça

O professor Paulo Marinho, que leciona na Escola Mesquita, ressalta a importância do evento para a região. “O sarau é sempre legal, é muito importante para essa comunidade, que é tão carente. Desde que o Ciríaco começou com esse projeto percebemos que há mais união na escola, com cultura, diversão e aprendizado”, diz o professor. Essa interação com a comunidade, para Marinho, é dever da escola. A escola tem que estar de portas escancaradas para a comunidade.” O sarau cumpre à risca.
No evento, crianças e adolescentes declamam seus poemas. Na ocasião do lançamento da antologia dos Mesquiteiros, os temas iam desde violência até pão com manteiga. Jéssica Queiroz, de 18 anos, participa do projeto desde o início e foi uma das adolescentes que recitou:Minha mãe sempre declamou poesia para mim, minha relação com a literatura era ótima, mas não conhecia a literatura periférica. Aí entrei aqui e comecei a participar do projeto, eu achava que não poderia escrever, mas, com o exercício eu comecei a perceber que era possível”.




Mães de Maio e periferia

Pode pá que é nóis que tá” foi vendido a R$ 15 e quase todos os autores estavam presentes. O livro é dedicado às Mães de Maio, movimento criado por familiares de mortos por policiais em 2006, durante os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo. Para Vera Lúcia, uma das mães do movimento, a tarde e a dedicatória serviram para relembrar o filho.Recebemos essa homenagem com imensa alegria, hoje, me senti na escola do meu filho, é como se ele estivesse aqui do meu lado, ele ia adorar esse ambiente, disse emocionada. Sabe, voltei há quase seis anos, quando aconteceu tudo aquilo, e lembrei que ele estava em uma escola. Fiquei tão feliz de ver esses jovens fazendo poesia e falando o que deve ser falado da periferia, periferia não é só tristeza, estou muito feliz de ter vivido isso aqui.
É justamente na periferia que cresce o número de saraus, em especial na zona Sul. Segundo Ciríaco, a zona Leste ainda está começando. O movimento é forte na Sul, porque o movimento Hip-Hop, desde a década de 80, é muito forte ali, afirma. O próprio Ferréz é da Sul, o Sérgio Vaz, o Mano Brown que assina o prefácio do Capão Pecado, são de lá, o envolvimento no surgimento dos Saraus com o Hip-Hop explica essa cena forte na zona Sul. Se depender dos Mesquiteiros, o movimento na Leste vai longe, além dos muros da escola.

Por Igor Carvalho


Postado por: KARINA FLAMINO FERNANDES













As palavras são apenas pedras 
Postas a atravessar a corrente de um rio, 
Se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, 
A outra margem é o que importa
”.                                                                          
                                                               José Saramago              


A poesia é uma forma de expressar a subjetividade, revelar os sentimentos e emoções por parte de quem a escreve. É preciso que saibamos “mergulhar” nesta profunda sensação de nostalgia que só ela nos proporciona. 

Mas será que todos os alunos estão preparados para se sentirem envolvidos neste clima de encantamento? Pode ser que não, pois os mesmos preferem trabalhar com a objetividade, com algo real. Estão adaptados à revolução tecnológica que tanto assola a sociedade atualmente, onde a razão cedeu lugar para a emoção, o Ter predominou sobre o Ser. 
Diante disso, o professor de literatura, de forma específica, sente dificuldade em trabalhar o conteúdo, principalmente no que se refere à leitura de obras literárias e de textos poéticos. 

Durante as aulas, ele precisa despertar o interesse por parte dos alunos, mostrar que a literatura é uma arte, e como tal, é repleta de beleza, de magia e encantamento. Ler poesias valorizando a pontuação, o timbre de voz e a entonação são práticas extremamente decisivas para a obtenção do resultado almejado. 
Caso contrário, a leitura passa a não fazer sentido nenhum para o aluno, a essência não é absorvida. 

Dentre as práticas pedagógicas a serem aplicadas, uma ótima sugestão é a realização de um sarau de poesias aberto a toda comunidade escolar, valorizando o cenário, a iluminação do ambiente, tudo isso regado a uma música ambiente, bem condizente com o momento. 
Outra sugestão é a criação de um livro de poesias sob a autoria dos próprios alunos. Não deixando de enfatizar a questão da criatividade, por se tratar de um livro, as imagens e a construção da capa são bastante relevantes. 

Estas e outras práticas de ensino contribuem para diversificar a questão do ensino e da aprendizagem, como também para aprimorar o nível de interação entre os alunos, melhorando a sociabilidade, e, sobretudo, elevando a autoestima dos mesmos, pois se sentem capazes de mostrar seu instinto criativo. 

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola









Condições didáticas da escrita respondem aos seguintes elementos: o que, para que e para quem escrever.

As dificuldades encontradas pelo professor de Redação são incontestáveis: entre elas, e talvez a que possa resumir todas as outras, está a própria repulsa pelo ato de escrever. Diante disso, inegavelmente, o que se “colhe” de todo esse processo são muitas vezes algumas mal rabiscadas linhas, isentas de quaisquer traços de organização e lógica, entre outros pormenores. Enfim, parece que o “produto final” resultou em nada mais nada menos que um simples cumprimento de um dever imposto, sem ao menos se dar conta do que estava fazendo.
O mais grave é que tal questão, caso não seja discutida e trabalhada com o intento de encontrar alternativas para que a situação seja contornada, pode se perdurar para sempre, o que pode resultar em sérias consequências para os educando mediante um processo seletivo, como também nos demais segmentos de sua trajetória cotidiana.
Nesse sentido, uma das metodologias a serem implantadas diz respeito à forma pela qual o educador conduz sua prática pedagógica no que tange à produção textual. Falando assim, vale mencionar algumas rotineiras práticas, como por exemplo: o aluno, inserido naquela aula (a de Redação), já espera do educador algumas propostas com base nas modalidades descritivas, narrativas, e algumas vezes dissertativas, nas quais fica a critério dos aprendizes o tema que será abordado nessas produções – o que pode tolher ainda mais a capacidade imaginativa deles, visto que se sentem sem um direcionamento, sem um norte. Assim sendo, no intuito de redefinir tais propósitos, com vistas a conduzir, situar, os alunos no procedimento que realmente irão desenvolver, o artigo em questão tem por finalidade abordar algumas propostas didáticas, cujos posicionamentos tendem a revelar uma expressiva eficácia frente a essa realidade que, por vezes, parece tão desastrosa.
Para tanto, faz-se necessário voltarmos ao título do artigo, ora demarcado pelos termos “condições didáticas”. Elas, por sua vez, são demarcadas por uma boa proposta de texto, com base em propósitos comunicativos claros e definidos, de modo a fazer com que o aluno compreenda “o que”, “para que” e “para quem” está redigindo.
Em meio a esse ínterim chegam para compor o “cenário” os diversos gêneros textuais. Todos eles, demarcados por uma intenção comunicativa, fornecerão subsídios suficientes para que tais condições didáticas sejam colocadas em prática. Dessa forma, cumpre fazer referência a algumas elucidações um tanto quanto pertinentes, assim evidenciadas:
* Ao propor a produção de uma carta endereçada a um amigo, e outra ao diretor da escola reivindicando melhorias para a quadra de esportes, os alunos terão condições de estabelecer as finalidades que nortearão seu discurso, atendendo àqueles básicos requisitos, ou seja, o que escrever, para que e para quem. Nesse conjunto de fatores entra a questão dos aspectos linguísticos, tais como o uso da modalidade padrão, com a presença ou não de uma linguagem mais pessoal, etc. No caso da carta endereçada ao diretor, impera a qualidade dos argumentos elencados, os aspectos formais, estruturalmente dizendo, entre outros elementos.
* No caso de uma proposta da construção de um jornal periódico e a construção de algumas poesias para um sarau, eles também terão a habilidade de escolher qual linguagem deve ser utilizada – se objetiva ou pautada pelo expressivo instinto de subjetividade.
* Em se tratando de textos narrativos, como contos, fábulas, apólogos, crônicas, parábolas, entre outros, cerceados por esse espírito de compreensão, os educandos constatarão a necessidade de elencar os principais elementos, tais como, personagens, tempo, espaço, narrador, discurso e enredo, tendo em vista as partes que o compõem, materializadas pela apresentação, complicação, clímax e desfecho final.    

Em face de todos esses pressupostos, presume-se que o educador, ao definir seus reais objetivos acerca do que se espera com a produção de seus alunos, sobretudo com base em propostas norteadas pela clareza da intenção comunicativa, gênero e destinatário, obterá o sucesso como retorno de sua proposta metodológica.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola


Postados por:  ANDREIA TEIXEIRA DE SOUZA CLEMENTE







 Quando passas a meu lado,
que olhas para mim,
Tornas-te da cor da rosa,
E eu da cor do jasmim.

Vê tu que expressões diferentes
Da nossa mesma ansiedade:
A cor da rosa é despeito,
A palidez é saudade!


Florbela Espanca - Trocando olhares








Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…
O eco ao pé de mim segreda… desgraçada…
E só a voz do eco, irônica, responde!

Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantando como um rio banhado de luar!

Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E Só a voz do eco à minha voz responde…

Em gritos, a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…



Florbela Espanca - Trocando olhares





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Postado por: ANDREIA TEIXEIRA DE SOUZA CLEMENTE




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